O trio que toca com o coração na alma.
Ninguém tem dúvidas que é um dos trios top do jazz actual, aquele que é referência para os outros, e portanto provavelmente "o" trio top. O currículo dos participantes, o nível de integração que atingem, a mestria, a linguagem comum que se forma, são uma linguagem no extremo das suas possibilidades. De cada vez que se juntam, um tratado, epopeia ou odisseia do jazz. Uns Luíses de Camões navegando o tormentoso oceano com a pauta de uns Lusíadas swingantes firmemente erguida sobre a destruição líquida das ondas da mediocridade. Ou Herberto Helder, se quisermos um registo mais actual, descrevendo com palavras os sentidos mais inesperados da linguagem. Não utilizo por acaso estes dois exemplos, ambos têm estrutura, uma mais métrica e rítmica, outra mais fluida e do significado, mas ambas têm acolhimento figurativo na música coleante deste trio. Ondula, revoa, retorce-se, desatina e descansa.
Não é necessário dizer que são mestres da sua arte. Por vezes saem do seu púlpito conhecido e vão por aí. Por exempo, Jack de Johnette, o do ritmo inquieto, conduzindo bravamente a melodia de honeysuckle rose. Em território mais familiar, Jarrett tocando o reverso da melodia em Straight, no chaser, de Monk (devem ser os meus ouvidos leigos...).
Há algumas raras oportunidades de ouvir músicos na perfeição da sua arte, e muito poucas vezes nos toca a felicidade de perceber o que fazem; podemos no entanto extasiarmo-nos perante o que nos surpreende e comove, mesmo sem conhecê-lo. É o meu caso perante este Trio-Maravilha. E mais não digo.
(to be continued...)
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