21 julho 2008
L Cohen was here
Leonard Cohen à beira Tejo, numa noite em que o vento se suspendeu e deixou a Canção estender-se pelas margens.
Cohen já não desafia ninguém, sabe que já não tem força e portanto refugia-se no crooning: no seu poder evocativo, na sua presença magnética, na voz enterrada. Longe vão as provocações, o desafio, o desacato sentimental, a inquietude metafísica, o desacerto com o mundo. Resta a pose. Se se retirassem alguns arranjos miseráveis, até podiamos perdoar-lhe, assim apenas contemplamos a decadência e achamos muito bem. A voz está lá, quase roçando as profundezas, mas já não canta, declama. Os últimos álbuns vivem de composições sofríveis, de versos encadeados e certos; apesar disso, a capacidade de achar um significado relevante nos velhos símbolos ainda lá está. A sedução, o sexo, a religião, a perversão ainda estão lá, mais sincréticos e menos explícitos. Como se vivesse mais de imaginar do que experimentar.
No concerto, elevou-se a alturas desmesuradas com Hallellujah, cantando com os testículos que lhe restam e menos com o peito mirrado. Buscou alguns temas pré 1979 ("Recent Songs" é o início do fim, fim esse que dura há 30 anos, o que não deixa de ser admirável), mas deixou de fora aquilo que não cabe num concerto-evocação e que podia torná-lo num desafio, como todo o "Songs of Love and Hate"; e também nem uma desse álbum maldito pela mão de Spector e no entanto tão decadente como fascinante: "Death of a Ladies Man".
Oh Suzanne, o que é que ainda pensas deste eterno amante ausente? Ainda te apaixonarias por ele? Isso não sei, talvez o convidasses para um chá. Mas cuidado, a fera espreita e pode envolver-te com as suas metáforas insinuantes e arrastar-te para uma cama cada vez mais metafísica.
Cohen, e porque tens que estar sempre a agradecer a todos e dar graças por tanta dádiva? Quem te conhece sabe que tu não respeitas ninguém. Apenas o deus Pã, o deus Baco e Eros. O resto, são comuns, vulgares e esquecidos mortais...
No final, a grande satisfação de estar perante A Lenda e ouvi-lo dar sentido às suas palavras fortes com a autoridade de quem já viveu até se consumir. Até quem não conhecia se deixou envolver nesta onda suave e simbólica, nesta musica feita simples e poderosa. Goodbye, Cohen.
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