Joni Mitchell era bastante jovem quando compôs o tema. Em Abril de 1967 eu nem era nascido e ela tinha 24 anos. Foi um sucesso, primeiro na versão de Judy Collins (os Fairport Convention também a gravaram, mas não foi publicada na altura), depois na voz da própria Joni, que nesta altura ainda era bastante aguda, com algumas parecenças com a Joan Baez. Ao ouvirmos hoje a forma quase pueril como o cantava na altura (e até sobretudo a versão da Judy Collins), toda a letra parece uma interrogação filosófica quase trivial sobre um jogo de sentidos quanto à observação das nuvens e o duplo acepção de "up" and "down". Como podia ser de outra forma?
Em 2000, o tema ganhou uma nova versão no álbum precisamente chamado "Both Sides Now", em que Joni recriou com uma orquestra alguns dos seus temas favoritos.
É nesta versão que o tema ganha novos sentidos, por força da interpretação. A forma quase recitativa, grave e meditativa como a canta mantém a angústia existencial, mas revela um estado de paz, de aceitação que é quase um juízo final. Aqui o tema parece roçar o autobiográfico e já não é apenas um jogo, mas uma verdade sentida.
Terei ouvido este tema centenas de vezes e de todas as vezes o acho comovente. A letra segue um formato típico de canção, voltando sempre ao refrão, mas evoluindo num sentido mais lato: primeiro o leit-motiv da canção, as nuvens, depois o amor, depois a vida. E a conclusão: "I really don't know life at all".
Arrisquei-me a fazer uma tradução ad-hoc e sem pretensões de inteiro rigor, mas que creio que capta o espírito, porque, embora o inglês não seja difícil de perceber, acredito que muitas vezes o lemos levianamente e o português sempre é o português... Espero que gostem.
Joni Mitchell - Both
Sides Now
Autora: Joni Mitchell
Arcos e voltas de cabelos de anjos
E castelos de gelado
no ar
Canyons de penas em volta
Já olhei para as nuvens assim
Mas hoje elas só tapam
o sol
Elas chovem e nevam sobre todos nós
Tantas coisas que eu poderia ter feito
Mas as nuvens meteram-se à frente
Já olhei para as nuvens de ambos os lados
De cima, de baixo e no entanto
São as ilusões das nuvens que eu recordo
Na verdade, não conheço as nuvens de todo
Luas em Junho e carroceis de feira
A tontura rodopiante que sentes
À medida que os contos de fadas se tornam reais
Já olhei para o amor dessa maneira
Mas hoje é só mais um espetáculo
Deixa-los a rir qando te vais
E se te importas, não os deixes perceber
Não te entregues a eles
Já olhei para o amor de ambos os lados
De dar e receber, e no entanto
São as ilusões do amor que eu recordo
Na verdade não conheço o amor de todo
Lágrimas e receios e sentir orgulho
De dizer “amo-te” em alto e bom som
Elas chovem e nevam sobre todos nós
Tantas coisas que eu poderia ter feito
Mas as nuvens meteram-se à frente
Já olhei para as nuvens de ambos os lados
De cima, de baixo e no entanto
São as ilusões das nuvens que eu recordo
Na verdade, não conheço as nuvens de todo
Luas em Junho e carroceis de feira
A tontura rodopiante que sentes
À medida que os contos de fadas se tornam reais
Já olhei para o amor dessa maneira
Mas hoje é só mais um espetáculo
Deixa-los a rir qando te vais
E se te importas, não os deixes perceber
Não te entregues a eles
Já olhei para o amor de ambos os lados
De dar e receber, e no entanto
São as ilusões do amor que eu recordo
Na verdade não conheço o amor de todo
Lágrimas e receios e sentir orgulho
De dizer “amo-te” em alto e bom som
Sonhos e esquemas e multidões do circo
Já olhei para a vida desta forma
Agora os novos amigos comportam-se de forma estranha
Abanam a cabeça e dizem que mudei
Bem, algo se perdeu, mas ganhou-se também
Algo em viver o dia a dia
Já olhei para a vida dos dois lados
Da derrota e da vitória e no entanto
São as ilusões da vida que eu recordo
Na verdade, não conheço a vida de todo.
Já olhei para a vida desta forma
Agora os novos amigos comportam-se de forma estranha
Abanam a cabeça e dizem que mudei
Bem, algo se perdeu, mas ganhou-se também
Algo em viver o dia a dia
Já olhei para a vida dos dois lados
Da derrota e da vitória e no entanto
São as ilusões da vida que eu recordo
Na verdade, não conheço a vida de todo.
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