17 setembro 2024

Quiet Sun, El Sol Tranquilo d'El Manzanero

 


Manzanera com o seu salero latino é bom, mas Manzanera com o seu chapéu de inventor e óculos de mosca é muito bom. Os Quiet Sun são a banda que ele desbandou para bandar com os Roxy Music. Em 1975, depois de “Country Life” dos Roxy, depois de participar em (e produzir) “Fear”, de John Cale, depois de tocar em “Taking Tiger Mountain by Strategy” de Eno, Manzanera reforma a banda para tocar a musica composta 6 anos antes.

Como se adivinha, a música é tudo menos mainstream. Com esta companhia (Bill McCormick, Charles Hayward, Dave Jarrett), os Quiet Sun criam um dos álbuns fundamentais de 1975 e da música inquieta britânica.

Manzanera continuou a sua carreira eclética, capaz de tocar com todos e nunca perder o pé, e livre, com os seus grupos e como músico em bandas de outros, capaz de se encaixar em formações alheias e deixar a sua marca. Não por acaso, a sua ligação duradoura com David Gilmour, nas fases mais recentes da carreira deste, mostra a capacidade de se adaptar, de contribuir como um entre iguais sem problemas de ego ou competições, que só fazem sentido para espíritos mesquinhos.

Manzanera é um dos grandes guitarristas de rock do século passado (considerando que a parte mais significativa do seu trabalho foi lançada no século XX), sempre com um perfil discreto mas também sempre capaz de deixar o seu lastro de invenção por onde passa. Os Quiet Sun são um dos exemplos mais livres da sua invenção.

25 agosto 2024

Joachim Kühn, Springfever

Joachim Kühn, compositor e pianista de jazz alemão, em modo jazz rock versão europeia, mas seguindo fundamentalmente o modelo americano, aqui representado  através do baterista Gerald Brown, que tocou com Stanley Clarke e com os Return to Forever de Chick Corea.

A fusão invoca não só a junção de vários géneros (normalmente o jazz contemporâneo e o rock), mas também o estado efervescente que a música frequentemente invoca e provoca. Esta fusão será o paroxismo do rock, por oposição ao delírio mais contido e cerebral do jazz. Vem à memória imediatamente os Vulcan Worlds dos RTF, ou a música em estado de lava cósmico dos Mahavishnu. Aqui, como na faixa de abertura Lady Amber, procura-se derreter o ouvinte através da temperatura da música. Já mais à frente, é o meio-tempo mais melódico e suportado pelos fraseados de piano de Kühn (nunca desinteressantes nem monótonos), como em Sunshine.

Uma nota para Philip Catherine, guitarrista belga versátil que colaborou com meio mundo na cena jazz europeia e não só – como provam os discos com Stéphane Grapelli, Larry Coryell, Chet Baker, Jean-Luc Ponty, Toots Thielemans, etc. Alguns discos a solo dele parecem-me mais “medianos” (ex. “Transparence”), parece ser no contexto dos vários ensembles, acústicos ou elétricos, que ele dá o seu melhor.

Kühn é um excelente pianista e compositor e merecia ser mais reconhecido. A imprensa musical europeia não tem a pujança da norte-americana, talvez por isso, mas Kühn, como tantos outros na cena inglesa, francesa, alemã, nórdica e polaca, pode estar lado a lado com tantos outros do outro lado do atlântico; e tanto assim é que muitos deles “vieram cá” para tocar com eles, ou “importaram-nos” para lá.

De mais a mais, tem uma extensa carreira e continua ativo ainda hoje (ultimamente mais ligado à editora ACT, que é uma das power houses atual do jazz do norte da Europa)

Alemanha, 1976

Faixas: Lady Amber, Morning, Equal Evil

Ouvido em vinil, edição alemã




25 julho 2024

Pat Metheny (um draft de um estudo em evolução)


Um músico complexo, com uma paleta de criação que varre vários territórios musicais e geográficos. Um esteta à procura de novas ideias e sensações que não rejeita nenhum campo de experiência. Um músico epidérmico, que toca emoções à flor da pele.

No início, ou quase no início, há uma ideia de centralidade da América, uma música que brota da imobilidade do midwest e que a celebra. American Garage e as vastas planícies, a que o baixo de Jaco pastorius serve bem como linha do horizonte. Exemplo “(Cross the) Heartland”. Uma América de cidades solitárias e longas conexões vazias entre elas, com uma melancolia existencial como fio condutor.

Esta ideia de pintor de paisagens serve-lhe também para pintar paisagens interiores. Em vários discos o que descreve é o mundo da mente, as impressões da paisagem, como em “New Chautauqua”. Ou os estudos psicológicos individuais de “One Quiet Night” e “What’s it all about”, em que reduz à frieza introspetiva temas emotivos como “Garota de Ipanema” ou “That’s the way I Always Heard it Should be”.

Mais tarde, o multiculturalismo, após o contacto com a música de Milton Nascimento e o Brasil em geral, género musical sensual que Metheny sentiu na pele.

“Offramp” é a tentativa deliberada e bem conseguida de criar uma nova linguagem, híbrido de jazz, fusão, tropicalismo e easy listening que marca os discos que se seguem. Mas em que não faltam sempre os movimentos aquosos, lentos e hipnóticos como “Au Lait”, algo que Metheny manteve em (quase) toda a discografia. Ou já a dissonância free de "Offramp". E que se seguiu na aproximação ao jazz ligeiro e vocal, como evidencia o disco com a cantora polaca Anna Jopek (“Upojenie”) ou o italiano Pino Daniele.

Faceta esta em que se encaixam, quase sempre, as parcerias com Gary Burton, alinhado desde cedo com Metheny e que, por via do seu próprio ecletismo, combina bem com a “estética GRP" que às tantas lhe parece convidativa (e comercialmente bem sucedida?). Sem que isto implique menorizar o trabalho do duo: muitas vezes aproximando-se de uma música feliz e descomplexada, como em “Tiempos Felice”, eterno retorno à melodia em “Reunion” que nada tem a ver com a expressão amargurada e “negra” do jazz clássico.

E como a outra face nunca anda longe, tanto se aproximou de algum hermetismo mais clássico do jazz (ex: nos discos com Michael Brecker), como procura o free e algum radicalismo estético  (ex: “Song X”, com Ornette Coleman), ou o expressionismo elétrico próprio (“Zero Tolerance for Silence”). Ou a atualização constante das parecerias com alguns dos músicos mais excitantes do cânone pós-clássico do jazz (esta expressão existe?), como Brad Mehldau, Esbjörn Stevensson, David Liebman, Dave Holland, Ulf Wakenius ou John Zorn ou a própria Joni Mitchell. Com o risco de por vezes sair totalmente daquilo que se ouve e diz: “´é jazz”. Ou ainda a musica mais académica (mas não menos envolvente) em parceria com Steve Reich (ex: Different Trains / Electric Counterpoint”).

Pelo caminho ficam umas experiências de música mecânica, com a construção do admirável Orchestrion, que vale sobretudo como conceito e obra solipsista, mas que, lá está, renega a alma. Mas a prova está feita.

Nunca falei em prémios, nem reconhecimento dos pares, que é o que mais interessa, mais do que juízos voláteis dos “críticos” e da apreciação lisonjeira do público. Eles estão lá, são a face visível do fenómeno, mas não a mais interessante.

Uma coletânea, qualquer que seja ou tenha a extensão que tenha, nunca fará jus à diversidade de um criador insaciável, um instrumentista de topo e um esteta insatisfeito. Nada como ir absorvendo, apreciando pouco a pouco, e degustar com tempo os “morceaux admirables” que a sua obra deposita nas margens do rio da música.

20 dezembro 2023

2023: Looking back

Agora que já nada mais de relevante deve sair até que se vire a cortina de 2023, aqui ficam algumas escolhas resultantes das audições dos álbuns saídos durante o ano. Sem grandes comentários, que a escolha de música é um ato pessoal e intransmissível.
Em 2023 fez-se grande música, como é costume. Alguma da melhor musica que ouvi veio do cruzamento de linguagens. Seja no caso do folk gótico dos Lankum ou na musica borderline de Jaimie Branch. Mas outra vem só da tradição, como é o caso dos Stones.
Como é costume também, o futuro fez-se do passado e de re-visitar ou re-editar obras maiores que estavam esquecidas ou simplesmente não estavam disponíveis.
Uma nota final: acontece-me sempre a mesma coisa. Penso que já identifiquei algumas das melhores propostas do ano, e depois começo a revisitar o que saiu e começam a sair as listas e há sempre mais alguma coisa para ouvir e que até devia estar na minha lista. É um trabalho nunca acabado, mas tem que acabar alguma vez: restringir aquilo que se conhece e não querer abraçar a complexidade. Esta é a lista provisoriamente definitiva.

Novos

Ahoni – My Back was a Bridge for you to Cross
Alabaster DePlume - Come With Fierce Grace
Arooj Aftab, Vijay Iyer, Shahzad Ismaily – Love in Exile
Baaba Maal – Being
Corinne Bailey Rae – Black Rainbows
Jaimie Branch – World War
Lankum - False Lankum
Lisa O’Neill - All of this is Chance
Paul Simon – 7 psalms
The Rolling Stones – Hackney Diamonds
Yo la Tengo – This Stupid World
Yussef Dayes – Black Classical Music

New Old Stock

Les Rallizes Dénudés – Città 93

Reedições

Pharoah Sanders- Pharoah (1975)
(imagem gerada pelo Dall-e)

30 outubro 2023

Roger Powell, Cosmic Furnace (USA, 1973)


Some of the electronic creators got a bit carried away by the wonders of electronics. Without questioning their technical ability and their engineering skills, and talking just about the music, they sometimes forgot about the meaning. The form is there, you can hear the intentions, but can’t feel the click. One of the big, big examples of this is Patrick Moraz, with the work he did on Refugee and then in his solo work, especially on the ominous “Story of I”. I bought his record as a young adult, hated it, sold it, and bought it again as declining adult just to confirm that my young self was right. It’s just too much self-indulgence.

Some would say that Rick Wakeman went the same way at some point, and they are right. When you are very good at your instrument it’s easy to indulge if you don’t know where your north star is. And he got carried away with all sorts of insignificant stuff that came to his mind. He got lost in ambient music and endless recreations of his former greatness (YES stuff and some of his early solo work).  

Some would say Keith Emerson did the same. I’d argue that Keith is a few notches above all the others, but yes, when the 80’s came everybody was a little foolish and wanted to be a keyboard star, 80’s style, even if they already were. But he is not to be confused with Walter-Wendy Carlos. Or others that will go nameless.

Some would say that Vangelis also went down that road. Have you heard his albums with Jon Anderson? ¾ of it could go down the drain and nobody would notice. But there’s all the rest, and although he wasn’t a wizard, he had feeling and emotion – even in his cold wave period (Albedo 0.39, for instance). And he was an explorer, moving from pop to emulation of symphonies to free jazz exploits (Hypothesis). He may have not got there totally, but he lived trying; and in many ways he got there (e.g. Blade Runner). So, there I’d disagree.

And then there’s Roger Powell. Protegé of Mr. Moog himself, player with Todd Rundgren and Utopia, Rainbow, Meat Loaf and Bowie, he had a lot of Powell on his hands. In 1973 he just set free this first solo release. It is a like a Chinese restaurant table where you get to mix a lot of different plates. Some seem tasty at the beginning, them a bit sugary, and you leave it on the plate. Some are just strange (chicken feet with oyster sauce? WTF? Etc). Some you just lose interest. So, what looked like an interesting tasting experience becomes boring.

Sometimes it’s the recipe, sometimes it’s the cook, or the ingredients. But in the end what reaches your palate is what you taste, and what you react to. On Trip Advizer (sorry, Julian Cope) this would get a 2,5.

14 novembro 2021

A brava dança dos heróis substitutos - Tangerine Dream e o Eterno Devir



Pode uma banda que já não tem nenhum elemento original carregar com distinção o facho da música feita pela banda original?

Pode. Uma das provas a exibir é a verão atual dos Tangerine Dream, tocando temas da década de 70 / 80. Depois de desistir de acompanhar a produção galopante e de qualidade mediocriana da banda, os últimos álbuns, muitos sessões live, têm sido uma boa surpresa. Conseguem manter o feeling do período clássico ao mesmo tempo que o modernizam e, aspeto não desprezível, melhorar o som. Recomendo este de 2019, o 72ª da banda. Isto, claro, para quem se revê em sons planantes, melódicos e repetitivos com tendência para induzir a abstração.

24 janeiro 2021

LOCOMOTIVE - WE ARE EVERYTHING YOU SEE


Da série Bandas que deveriam ter tido mais sorte na vida" temos hoje os Locomotive. Os sessenta e inícios de setenta foram pródigos em projetos que não produziram vinil ou o fizeram em doses de filho único. Demasiada efervescência, fervilhar de ideias e movimentações próprias de um período de grande criatividade fizeram com que muitos projetos não chegassem a amadurecer o suficiente para convencer as editoras ou foram alvo de estratégias editorias que não os privilegiaram, ou eles próprios não conseguiram solidifcar a banda o suficiente, ou pura e simplesmente eram one man show bands que não se aguentaram. No caso dos Locomotive parecem não ter tido sorte com o apoio da editora (Parlophone, do grupo EMI) e o líder, Norman Haines, rapidamente passou ao grupo com nome próprio, Norman Haines Band. Eram músicos do circuito ao vivo que tiveram algum sucesso com singles de ska e finalmente tiveram a oportunidade de gravar um longa duração, já mais virados para o rock progressivo.

Fortemente ancorados nos teclados de  e com um baixo expressivo e competente o seu som é muito marcado pela secção de metais, fazendo às vezes lembrar uns Blood Sweat & Tears mais ousados. O disco encaixa muito bem na época e certamente merecia muito melhor público. O tema Mr. Armageddon chegou a ter algum sucesso, mas rapidamente passou para o lado B da História. Injustamente, para uma banda que criou um som próprio, tem boas composições e músicos acima da média.

Hoje é mais um dos que a primeira edição se vende a preços pornográficos e não há reedições recentes. Felizmente está disponível nas plataformas digitais.


10 outubro 2020

Prato do Dia: improvisação à francesa



Não gosto de rótulos porque, se servem para situar, servem também para afastar; e portanto o rotulo de RIO (rock in Oppostion) aposto a estes franceses pode afastar quem à partida “não gosta” de bandas RIO. Sendo sabido que RIO era precisamente um movimento que se opunha à ditadura do gosto das editoras musicais, muitos eram, nos 70, os fãs da chamada musica progressiva que não nutriam especial carinho por bandas pouco alinhadas com um género que, também ele, tem os seus cânones e panteões, para não dizer os seus próprios estereótipos.

Em vez de RIO digamos apenas que são uma banda de rock a tender para musica largamente instrumental e digressiva. “Digressiva” assinala o gosto por deixar os instrumentos falar num determinado contexto musical que é lançado: por exemplo, uma base de baixo, bateria e órgão a deixar um sax à vontade para improvisar. Quando se fala de improvisação, pensa-se logo em jazz, como se só e apenas no jazz se improvisasse. Mas diga-se que nem o jazz é musica (só) improvisada, nem obviamente o rock é desprovido  de “improviso”. Que não se deve confundir com o solo, porque, se o solo é o tomate no centro da salada do tema rock setentista normalmente tem tudo menos improviso: é estruturado, pensado e desenvolvido para ser repetido muitas vezes. E to cut a long story short estes Plat du Jour são uma banda rock com um gosto definido pelo desenvolvimento instrumental dos temas.

Talvez a capa desenhada, a branco e preto, com destaques a vermelho contribua para a associação com a “oposição”, já que vemos uma figura demoníaca de esgar escarninho com o que parece ser um blusão de cabedal à punk mas sem calças, terminando as pernas nuns cascos e sem esquecer as proeminências masculinas em evidência. Figura que nos seus pezinhos de cabra está nu meio de uma fogueira em que ardem instrumentos destruídos de uma banda rock e ao lado de um caldeirão de onde se espalhou o fogo. A origem da capa é revelada na contra-capa, onde o demónio mexe o caldeirão com instrumentos lá dentro. A destruição do rock, ou uma boa poção derramada sobre o mundo para o subverter.

E quem assim ousa? Sete músicos que cometeram este único álbum  em 1977, que merecia melhor sorte que ter desaparecido sem deixar rasto durante décadas, para ser re-editado em 2016 pela Mellotron Records em LP e pela Paisley Press em CD. Vincent Denis (voz, guitarra), Rodolphe Moulin (baixo), Oliver Pedron (percussão), François Ovide (percussão, que também tocou com Albert Marcoeur, Weidorje, Gwendal e John Greaves), Alain Potier, agora chamado Granville) que também tocou nos So & Co (saxofone), Jacques Staub (teclados. percussão) e François Maze (voz).

Que dizer da musica? Bons musicos, com óbvio gosto pela exploração em direcção ao jazz (por vezes na vertente atmosférica de in a Silent Way), mas sem sair da linguagem do rock. Bom interplay entre eles. Temas fortes, angulares, frequentemente com um bom Groove. Às vezes Vincent Denis junta vocais em semi-falseto como em “Zilbra”. A sua guitarra é rockeira, parece às vezes que os riffs saem do hard rock. 6 temas no total para álbum coeso e exploratório, que dá gozo ouvir e seguir e que deve apelar a quem goste do rock mais fora da caixa.

28 abril 2020

Dennis, The Menace, creates a secret album on a German Hill


There is a mist around this record that probably begins at the cover. An inexpressive building at the top of a hill. A building where the windows are also inexpressive, like muted windows.  It starts with rail station announcements, just as Agitation Free’s “Malesch” starts with a proposal to fly: “You drive the aeroplane, I play the drums”. What follows is indeed a trip, but a quiet trip. On the second track, a low plane flies above us. The music starts. It is just an exploration, it could be a home jam. The quality of the recording is not great. Nevertheless, it has that obscure flavor of a private session; something you were not supposed to witness but slipped out in a form of and 8-track tape. Then you realize that the musicians come from such groups as FRUMPY, THIRSTY MOON, XHOL, TOMMORROW'S GIFT and OUGENWEIDE. For the newbie in German 70’s progressive music, they are not the most shiny ones on the pack. But they ensure great diversity. And as you listen, you notice a sense of adventure, side by side with the sense of abandonment. Side 2 begins with Fender Rhodes and flute that are not faraway from the first Return to Forever album. Then you read the comments on the back cover “don’t take it too seriously”. This could be the Sinatra’s “In the Wee Small Hours of the Morning” in a parallel dimension. This could be Nina Hagen’s children lullaby. This could be a frozen Earthbound. This could be a new wave of Soft Machine’s Fourth. This could be something that you are not meant to listen. But you did. And so…

19 abril 2020

Dos YES para a Amazónia - Carioca & Devas - "Mistérios da Amazónia", Brasil 1980




Saltando de um passado de rock progressivo, o Carioca Ronaldo Leite de Freitas não era um novato quando decidiu dedicar-se unicamente aos sons acusticos. Começando por ser um cantor, tornou-se rapidamente um guitarrista experiente e criativo. Neste seu primeiro álbum a solo, auto financiado num esquema de crowd funding avant la lettre (vendeu os 1.000 exemplares a discotecas antes de o gravar), toca guitarra de 6 e 12 cordas, bandolim e cítara nordestina. É acompanhado por dois companheiros do seu antigo grupo, Devas, Sérgio Otazanetra na percussão e Fernando na flauta e no piano, assim como pelo experiente Zé Eduardo Nazário, que trabalhou antes com Milton Nascimento, Hermeto Pascoal ou Gismonti e ainda por Guedes (?) no baixo e vozes diversas.

O resultado é um disco místico, tropical, lírico e aventureiro, que estabelece pontes com o trabalho de Milton Nascimento e sobretudo Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos.

Carioca - alcunha que ganhou quando migrou do Rio de Janeiro para São Paulo - trabalhou também como professor de música, arranjador, compositor para teatro, dança e filmes e acabou a viver na Suiça para acomodar as necessidades das digressões constantes na Europa.

Reedição recente da alemã Altercat Records com todos os cuidados que a obra merece.