Neil Young dá um concerto espantoso no Optimus Alive, a recordar-nos porque é que gostamos destes dinossauros dos ano 60 / 70: porque eles tocam como ninguém, com uma dedicação á música que desapareceu quase completamente desde aí. Neil Young é, ainda assim, um caso excepcional, de vitalidade, criatividade, rage, e compromisso.
Quem já conhece os discos ao vivo dele, especialmente "Weld", sabe o que espera. Mas nada nos preparar para ver este sexagenário arrancar com raiva da sua guitarra solos de vários minutos, tocar virado para os músicos, desafiar em confronto directo o baterista (que ás tantas se perdeu com tanto pára-arranca). Há verdadeira alegria vital, e, perdoe-se o inglesismo, mas não encontro melhor, commitment na forma como Neil conduz o concerto. Ele é o líder absoluto, incontestado, os outros estão lá para o seguir, muito bem, muito competentemente, mas sem que haja margem para grandes exposições individuais.
Pontos altos do concerto foram Rockin' in a Free World, o inevitável Cortez the Killer, a versão de mais de 20 minutos de No Hidden Path, o lirismo pastoral de Mother Earth tocado num orgão de tubos e o espantoso encore de A Day in The Life, dos Beatles. Pus-me a pensar porque escolheu este tema. Acho que é por causa do verso "I'd like to turn you on", afinal aquilo que Neil tem feito ao longo da vida, interessar / excitar / provocar o público com a sua música. E também porque o tema termina com aquela progressão sem paralelo (que eu conheça) na música popular, até atingir a tal nota inaudível que se diz que só os cães conseguem captar que, no original, é produzida pela orquestra. Procura Neil a nota final gloriosa e que está tão acima que se torna inaudível? A julgar pelo esventramento final da guitarra, as cordas arrancadas, a explosão de distorção e o depósito final do instrumento em estertor no chão do palco, provavelmente sim. Notável, ficará na memória de todos os presentes como um dos grandes concertos a que assistiram na vida.
Hats off to Neil.
Alguns links sobre o concerto:
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