09 agosto 2012

A Comédia Divina: Dante e mais além

Entre amigos geram-se às vezes turbilhões; nascem e morrem movimentos alados de sentimentos e paixões que atingem o pico da emoção com velocidade e que se mantêm, gerando não poucas vezes elevação e destruição na mesma medida. Depois morrem, passa-se a outro turbilhão e eventualmente restará no inalcançável futuro uma memória ocasional de tão grandes encantos.

Vem este palavrório a propósito de música, mas poderia vir de um pintor, um escritor, uma pessoa ou de um lugar. São coisas que acontecem entre amigos, segundo a Teoria Geral da Amizade.

Um dos mais recentes turbilhões de que me apercebi, um fenómeno viral (tão ao gosto do momento!), tem a ver com esse grupo alter ego de Neil Hannon, os Divine Comedy.

Valha em abono da formação das massas do turbilhão que é merecida a eclosão do fenómeno metereológico. Trata-se,  apenas, do equivalente musical e muitas vezes literário de um Oscar Wilde (mas sem o gosto twisted). Neil Hannon é um dos maiores escritores de canções do final do século XX, e pronto (como diria o meu amigo Hélio, muito justamente no centro do turbilhão,  "Pim!").

A composição, a adequação da música e da orquestração às letras, a fina ironia, a subtileza, a grandiloquência ocasional, o portento vocal quando se impõe, fazem deste músico uma riqueza bem maior do que a tem em bolsa o Royal Bank of Scotland (esta comparação foi um bocadinho mázinha, dada a cotação miserável do banco, mas pronto, estou farto de pagar a crise!).

Em álbuns maiores como o enorme "Casanova", "A short album about Love" ou "Fin de siècle" este agent provocateur destila veneno e doçura em doses iguais (mas nem sempre proporcionais), num preparado à mão que garante o deleite dos sentidos e do intelecto.

Enfim, para que o turbilhão se mantenha, deixo um dos temas maiores, uma sinopse escrita com bisturi, de uma relação ocasional equívoca e em que a escrita é perfeitamente secundada (diria elevada), por um crescendo orquestral que sublinha a conclusão com laivos de perversidade...

Para que nada fique por dizer, vai a lírica para acompanhar o tema...

No matter how I try,
I just can't get her out of my mind
And I when I sleep I visualize her

I saw her in the pub,
I met her later at the nightclub
A mutual friend introduced us
We talked about the noise
And how its hard to hear your own voice
Above the beat and the sub-bass
We talked and talked for hours,
We talked in the back of our friend's car
As we all went back to his place

On our friend's settee,
she told me that she really liked me
And I said: "Cool, the feeling's mutual"
We played old 45s
And said it's like the soundtrack to our lives
And she said: "True, it's not unusual"
Then privately we danced
We couldn't seem to keep our balance
A drunken haze had come upon us
We sank down to the floor
And we sang a song that I can't sing anymore
And then we kissed and fell unconscious

I woke up the next day
All alone but for a headache
I stumbled out to find the bathroom
But all I found was her
Wrapped around another lover
No longer then is he our mutual friend






1 comentário:

  1. Neil Hannon é, de facto, um dos grandes compositores dos nossos dias.
    Não conhecer a obra dos Devine Comedy, designadamente os três álbuns enunciados no texto do Luís, é perder muito do que de bom se faz em música!

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