Como avaliar um álbum novo de Pink Floyd? Principalmente
quando não é um álbum novo, mas um re-make up de sobras de outro disco?
E ainda por cima com o selo de que é o ultimo que a banda
alguma vez fará?
Este álbum não é um testamento.É um epílogo, de uma banda
que se despede de uma forma suave de uma carreira memorável e que o faz com um
o acenar a Richard Wright, falecido em 2008, perda sentida que terá ditado talvez,
mais que tudo, que os Floyd nunca mais fossem os Floyd.
Aliás, creio que este disco é, de uma forma não explicita,
um sentido adeus a Wright e uma homenagem ao seu papel na banda. A ele
pertencem os esboços de temas que já não podiam ser regravados, foi à volta
deles que o resto da banda trabalhou. São dele, portanto, as raízes deste
trabalho, o seu elemento mais antigo e que frutificou no álbum.
David Gilmour sente-se cansado e tem manifestado publicamente
que já não tem a energia necessária para continuar com este projeto. Compreende-se. Já tem nada a provar, e também já não tem nenhuma novidade para mostrar. Apesar de tudo, fez um último esforço para gravar a sua guitarra de timbre
incomparável para este último disco. Assim como Nick Mason, que gravou a bateria sobre temas ensaiados, pontas soltas
do álbum “The Division Bell”.
O resultado é uma longa tapeçaria de cores brilhantes, mais
próxima do último trabalho de Gilmour “On an Island” (um belíssimo
disco), que dos temas épicos dos Floyd.
Estou seguro que este trabalho vai ser reverenciado pelos
fãs, como uma ultima oferta, apreciado
como um momento Feng-shui por muitos, e ganhará o seu lugar na Galeria
Floydiana. Tem os ingredientes que fizeram tantos outros discos deles famosos,
e, de certa forma, vai repescar influencias de épocas diferentes que até têm
estado ausentes dos discos mais recentes do grupo, como os sons trance de “One
of these days”, ou ambiências saídas de “Ummagumma” . Falta, mas isso já falta
desde 1985, a truculência de Waters e o foco social. E a audácia na composição. Waters levou o “bite” dos
Floyd e deixou Gilmour aos comandos de um barco que só sabe navegar em grandes
planos, horizontes infinitos e regatas de luxo.
O trabalho está bem feito: a tapeçaria foi bem cosida, as
peças sucedem-se com coerência, o pano sonoro desliza perante nós sem costuras
à mostra. É um disco de 18 faixas em que
9 têm menos de 2 minutos, mas isso é pouco relevante. É um patchwork (sem o
sentido pejorativo que o termo pode ter) interessante.
Alguns apontamentos, apenas, já que não tem sentido falar de
temas aqui, de uma primeira audição de “The Endless River”
02. It’s What We Do – recupera as ambiências de Wish You
Were Here, através do som caraterístico do teclado de Rick Wright, que está
presente em Shine on you Crazy Diamond e Welcome to the Machine.
04- Sum – Teclados em ambiente Trance, um solo de bom nível de Gilmour sobre uma batida marcada de Mason.
05 – Skins - A parte do meio de "Echoes", a dos pássaros no meio do nevoeiro, serve de contexto a um bom trabalho de bateria de Mason
em primeiro plano, que toca com o mesmo drive de "A Saucerful of Secrets".
11-13. Alons-y 1& 2– Recupera o baixo-helicóptero e o mesmo
timbre de guitarra de Run Like Hell, de “The Wall”; um dos temas mais
interessantes.
12. Autumn’ 68 - Exercício de Wright em órgão de tubos, seguido pela guitarra de Gilmour.
15. Calling – Vangelis num dia mau.
16. “Eyes to Pearls” – uma guitarra com um ataque à la Mark
Knopfler de sobre uma bateria que lembra “Set the Controls for the Heart of the
Sun”. Tem um toque quase de krautrock, naquela vertente Michael Rother (ou será que já estou a confundir os filhos
com os pais?)
17. Os coros com a suavidade típica de Gilmour sobre a sua
linha melódica continua e ondulante (certamente na lap guitar), no que é um dos
quadros mais conseguidos (e familiares) do álbum, a preparar o último tema, o
único com vocais.
18. E então aqui temos os sinos de aldeia de “The Division
Bell”. O tema poderia estar nesse disco,
não seria certamente um dos mais memoráveis. E, sim termina com um solo dourado
de Gilmour.
That’s it boys. Recuperando aqui as palavras do grande poeta
Leonard Cohen, no seu disco mais mal-amado e incompreendido “Death of a Ladies
Man” (e cito de memória):
“So the
great affair is over / and whoever would have guessed / it would leave us all
so vacant / and so deeply unimpressed”.
Sem comentários:
Enviar um comentário