10 novembro 2014

Pink Floyd - The Endless River




Como avaliar um álbum novo de Pink Floyd? Principalmente quando não é um álbum novo, mas um re-make up de sobras de outro disco?

E ainda por cima com o selo de que é o ultimo que a banda alguma vez fará?

Este álbum não é um testamento.É um epílogo, de uma banda que se despede de uma forma suave de uma carreira memorável e que o faz com um o acenar a Richard Wright, falecido em 2008, perda sentida que terá ditado talvez, mais que tudo, que os Floyd nunca mais fossem os Floyd.

Aliás, creio que este disco é, de uma forma não explicita, um sentido adeus a Wright e uma homenagem ao seu papel na banda. A ele pertencem os esboços de temas que já não podiam ser regravados, foi à volta deles que o resto da banda trabalhou. São dele, portanto, as raízes deste trabalho, o seu elemento mais antigo e que frutificou no álbum.

David Gilmour sente-se cansado e tem manifestado publicamente que já não tem a energia necessária para continuar com este projeto. Compreende-se. Já tem nada a provar, e também já não tem nenhuma novidade para mostrar.  Apesar de tudo, fez um último esforço para gravar a sua guitarra de timbre incomparável para este último disco. Assim como Nick Mason, que gravou  a bateria sobre temas ensaiados, pontas soltas do álbum “The Division Bell”.

O resultado é uma longa tapeçaria de cores brilhantes, mais próxima do último trabalho de Gilmour “On an Island” (um belíssimo disco), que dos temas épicos dos Floyd.

Estou seguro que este trabalho vai ser reverenciado pelos fãs, como uma ultima oferta,  apreciado como um momento Feng-shui por muitos, e ganhará o seu lugar na Galeria Floydiana. Tem os ingredientes que fizeram tantos outros discos deles famosos, e, de certa forma, vai repescar influencias de épocas diferentes que até têm estado ausentes dos discos mais recentes do grupo, como os sons trance de “One of these days”, ou ambiências saídas de “Ummagumma” . Falta, mas isso já falta desde 1985, a truculência de Waters e o foco social. E a audácia na composição. Waters levou o “bite” dos Floyd e deixou Gilmour aos comandos de um barco que só sabe navegar em grandes planos, horizontes infinitos e regatas de luxo.

O trabalho está bem feito: a tapeçaria foi bem cosida, as peças sucedem-se com coerência, o pano sonoro desliza perante nós sem costuras à mostra.  É um disco de 18 faixas em que 9 têm menos de 2 minutos, mas isso é pouco relevante. É um patchwork (sem o sentido pejorativo que o termo pode ter) interessante.

Alguns apontamentos, apenas, já que não tem sentido falar de temas aqui, de uma primeira audição de “The Endless River”

02. It’s What We Do – recupera as ambiências de Wish You Were Here, através do som caraterístico do teclado de Rick Wright, que está presente em Shine on you Crazy Diamond e Welcome to the Machine.  
04- Sum – Teclados em ambiente Trance, um solo de bom nível de Gilmour sobre uma batida marcada de Mason. 
05 – Skins -  A parte do meio de "Echoes", a dos pássaros no meio do nevoeiro, serve de contexto a um bom trabalho de bateria de Mason em  primeiro plano, que toca com o mesmo drive de "A Saucerful of Secrets".
11-13. Alons-y  1& 2– Recupera o baixo-helicóptero  e o mesmo timbre de guitarra de Run Like Hell, de “The Wall”; um dos temas mais interessantes.
12. Autumn’ 68  - Exercício de Wright em órgão de tubos, seguido pela guitarra de Gilmour.
15. Calling – Vangelis num dia mau.
16. “Eyes to Pearls” – uma guitarra com um ataque à la Mark Knopfler de sobre uma bateria que lembra “Set the Controls for the Heart of the Sun”. Tem um toque quase de krautrock, naquela vertente Michael Rother  (ou será que já estou a confundir os filhos com os pais?)
17. Os coros com a suavidade típica de Gilmour sobre a sua linha melódica continua e ondulante (certamente na lap guitar), no que é um dos quadros mais conseguidos (e familiares) do álbum, a preparar o último tema, o único com vocais.
18. E então aqui temos os sinos de aldeia de “The Division Bell”.  O tema poderia estar nesse disco, não seria certamente um dos mais memoráveis. E, sim termina com um solo dourado de Gilmour.

That’s it boys. Recuperando aqui as palavras do grande poeta Leonard Cohen, no seu disco mais mal-amado e incompreendido “Death of a Ladies Man” (e cito de memória):
“So the great affair is over / and whoever would have guessed / it would leave us all so vacant / and so deeply unimpressed”.



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