02 janeiro 2011

O que eles dizem sobre 2010

Fatais como o relógio da meia-noite, ou o sacrifício benemérito dos perus, chegaram , logo no início de Dezembro (na maior parte dos casos), as listas de melhores do ano.

Em vários estilos musicais, conforme o pendor da publicação, ou do crítico, enumeram-se o bons discos. E mesmo no rock, onde é mais tentador fazer listas, pela quantidade e variedade de edições, há para vários gostos: as edições mais populares escolhem discos mais acessíveis alguns críticos que fazem listas pessoais escolhem objectos mais recônditos. O Expresso é um caso à parte de heterogeneidade. Creio que nenhuma das escolhas de cada crítico é corroborada por outro.
Para que servem estas listas?

Antes de mais, é da natureza dos críticos dar opiniões, e da natureza do humano estabelecer ordens de importância. Mas, na verdade, elas servem para o desatento poder ainda comprar os discos a tempo do Natal. Sim, porque se as listas pretendem rever o ano todo, porque é que são publicadas antes do ano acabar? Em Dezembro não se publica ou as obras não prestam? E estes discos não são recuperados para as listas do ano seguinte… Por exemplo, a Uncut, na mesma edição em que publica os melhores de 2010, noticia as edições recentes e atribui 4* a vários discos: Duffy –“Endlessly”; Iron & Wine – “Kiss Each Other Clean”, Dreamend – “So I Ate Myself, Bite by Bite”, JD Emmanuel – “Wizards”, The Dead C – “Patience”, Steve Wybb & The Miracle 3 – “Northern Aggression”, etc…

O que está errado é porem como nome a estas listas “o melhor de 2010”. Isto entra das estratégias de marketing para vender revistas. Não seria tão sexy dizer: “algumas escolhas de discos que ouvimos e gostámos em 2010”. Alguma humildade crítica era desejável. É muito presunçoso dizer que este e aqueles discos são os melhores, principalmente porque a quantidade avassaladora de edições torna impossível absorvê-las e apreciá-las. E é muito redutor dizer que um determinado disco de rock é o melhor de 2010, quando ao lado pode ter saído um disco de jazz que é de uma novidade extrema mas que o crítico não conhece. Ou não aprecia… A música é demasiado universal para poder ser reduzida aos nomes de putos novos de Inglaterra e velhos dinossauros dos Estados Unidos, bandas emergentes de Brooklyn e as novas sensações Australianas. Sem nos apercebermos, acabamos por reduzir o mapa do mundo aos países anglófonos. Onde está a música que se faz na Polónia, da França, os nomes novos da Suécia ou as bandas emergentes da Turquia ? E o que têm o Brasil, a Índia e a China a dizer sobre isto? Afinal, domina o nosso preconceito musical, que é ditado pela geografia e pelos preconceitos de meia dúzia que escrevem nos media.

Ainda assim, essas listas servem de ponto de referência no tempo para alguma música. Vistas anos depois, marcam de certa forma um ano, mais pelo que ficou e do que evoluiu do que por aquilo que revelaram.

Enredado nestas cogitações, o Peru não estava muito inclinado a contribuir com mais lixo cósmico para o ciberespaço. Até porque, lendo o que por aí sai, não partilha de algumas das adorações vigentes, mas não quer passar por ignorante. Serei só eu a achar que os Arcade Fire têm, em todos os temas, um ritmo de cavalgada épica que repetem ad nauseam e torna a música deles monótona?

Resolvi, ainda antes de passar a algumas menções pessoais, fazer alguma estatística, e analisei os top 20 (ou 10, quando se limitaram a 10 escolhas), de várias publicações, blogues, críticos, mailing lists: foram eles: Uncut, Mojo, The Word, Louie Louie, Blitz, Expresso (4 críticos), Blog Bodyspace. E cheguei ao top dos mais recomendados, pelo número de menções. Vale o que vale, mas… the winners are:

1º lugar Ex-aequo com 5 nomeações:
LCD SOUNDSYSTEM – This is Happening
VAMPIRE WEEKEND – Contra

2º lugar Ex-aequo com 4 nomeações
GIL SCOTT-HERON – I’m new here
ALOE BLACC – Good Things
CARIBOU – Swim
ARIEL PINK - Before Today
DEERHUNTER – Halcyon Digest
ARCADE FIRE – The Suburbs
JOHN GRANT – The Queen of Denmark

3º lugar ex-aequo com 3 nomeações
FLYING LOTUS – COSMOGRAMMA
THE NATIONAL – HIGH VIOLET
THE BLACK KEYS – Brothers
E todos os outros discos têm 2 nomeações ou menos. Ou seja, 10 críticos diferentes chegaram a 115 escolhas diferentes. Se alguma prova faltava da diversidade e qualidade da música que hoje se faz, ela aqui está.

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