10 outubro 2020

Prato do Dia: improvisação à francesa



Não gosto de rótulos porque, se servem para situar, servem também para afastar; e portanto o rotulo de RIO (rock in Oppostion) aposto a estes franceses pode afastar quem à partida “não gosta” de bandas RIO. Sendo sabido que RIO era precisamente um movimento que se opunha à ditadura do gosto das editoras musicais, muitos eram, nos 70, os fãs da chamada musica progressiva que não nutriam especial carinho por bandas pouco alinhadas com um género que, também ele, tem os seus cânones e panteões, para não dizer os seus próprios estereótipos.

Em vez de RIO digamos apenas que são uma banda de rock a tender para musica largamente instrumental e digressiva. “Digressiva” assinala o gosto por deixar os instrumentos falar num determinado contexto musical que é lançado: por exemplo, uma base de baixo, bateria e órgão a deixar um sax à vontade para improvisar. Quando se fala de improvisação, pensa-se logo em jazz, como se só e apenas no jazz se improvisasse. Mas diga-se que nem o jazz é musica (só) improvisada, nem obviamente o rock é desprovido  de “improviso”. Que não se deve confundir com o solo, porque, se o solo é o tomate no centro da salada do tema rock setentista normalmente tem tudo menos improviso: é estruturado, pensado e desenvolvido para ser repetido muitas vezes. E to cut a long story short estes Plat du Jour são uma banda rock com um gosto definido pelo desenvolvimento instrumental dos temas.

Talvez a capa desenhada, a branco e preto, com destaques a vermelho contribua para a associação com a “oposição”, já que vemos uma figura demoníaca de esgar escarninho com o que parece ser um blusão de cabedal à punk mas sem calças, terminando as pernas nuns cascos e sem esquecer as proeminências masculinas em evidência. Figura que nos seus pezinhos de cabra está nu meio de uma fogueira em que ardem instrumentos destruídos de uma banda rock e ao lado de um caldeirão de onde se espalhou o fogo. A origem da capa é revelada na contra-capa, onde o demónio mexe o caldeirão com instrumentos lá dentro. A destruição do rock, ou uma boa poção derramada sobre o mundo para o subverter.

E quem assim ousa? Sete músicos que cometeram este único álbum  em 1977, que merecia melhor sorte que ter desaparecido sem deixar rasto durante décadas, para ser re-editado em 2016 pela Mellotron Records em LP e pela Paisley Press em CD. Vincent Denis (voz, guitarra), Rodolphe Moulin (baixo), Oliver Pedron (percussão), François Ovide (percussão, que também tocou com Albert Marcoeur, Weidorje, Gwendal e John Greaves), Alain Potier, agora chamado Granville) que também tocou nos So & Co (saxofone), Jacques Staub (teclados. percussão) e François Maze (voz).

Que dizer da musica? Bons musicos, com óbvio gosto pela exploração em direcção ao jazz (por vezes na vertente atmosférica de in a Silent Way), mas sem sair da linguagem do rock. Bom interplay entre eles. Temas fortes, angulares, frequentemente com um bom Groove. Às vezes Vincent Denis junta vocais em semi-falseto como em “Zilbra”. A sua guitarra é rockeira, parece às vezes que os riffs saem do hard rock. 6 temas no total para álbum coeso e exploratório, que dá gozo ouvir e seguir e que deve apelar a quem goste do rock mais fora da caixa.

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