07 outubro 2010

Easy Listening - German Style

Uma passagem por Londres serviu para ir explorar as catacumbas do vinil no Soho. Na Sister Ray, em Berwick Street, o vinil vive de mãos dadas com as novidades.

Entre as rodelas pretas, muitos vinis com som impecável a 1,99£, algumas raridades a preços módicos e edições novas (contrastando com Boston, onde as edições novas se vendiam a 25$ e qualquer disco com aspecto de usado custava entre 10 e 15$).

Entre as velhas glórias encontrei este:
Atem - Tangerine Dream

É um dos primeiros discos deles, mais exactamente o 4º e o último para a Ohr, editora alemã muito ligada à musica de vanguarda da época. A partir daí gravariam para a Virgin, muito por "culpa" do sucesso deste álbum em Inglaterra.

A capa é, para mim, uma das mais icónicas dos anos 70.

Até aqui, os TD eram um bando de salteadores de paisagens remotas, fossem elas antigos túmulos de tempos passados ou visões de futuros descarnados em luas abandonadas. A partir do disco seguinte, Phaedra, passaram a ter um som mais estruturado, menos errante. Mas neste basta fechar os olhos e deixar a mente divagar. Em alguns momentos, ouvido no escuro, pode ser aterrador - tal como o duplo Zeit, enciclopédia de sons gelados e lentas massas negras movendo-se em direcção ao vazio infinito. Ao invés das sequências mutantes que viriam a oferecer em discos como Tangram ou Force Majeure, aqui o espaço é visível, o silêncio molda os sons sobre um plano imaginário. Daí a ironia do título deste post - parece ser easy listening. O início de Fauni Gena parece vir (como uma passagem de Ricochet), de um qualquer Clair de Lune electrónico. Mas algumas passagens de Atem, a faixa que ocupa todo o primeiro lado,e sobretudo Wahn, onde sons guturais se misturam com mellotron no que parece ser uma camara de eco, desmentem o conceito do easy listening que é, como todos sabem, música para adormecer adultos.

As raízes podem estar nos primeiros Pink Floyd (passagens de More e de Echoes, sobretudo Ummagumma ou mesmo de Obscured by Clouds), o primeiro disco dos Kraftwerk, ainda sob o nome de Organisation, ou Popol Vuh. Mas esta eram uma época em que imitar era um crime (para quê imitar quando havia tudo por inventar?) e em que as obras se alimentavam reciprocamente.

Froese, Franke e Baumann assinam aqui uma obra magna não só dos germânicos mas dos anos 70. IMHO.

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